sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

"METADE DE MIM"


"Metade de mim"
Que a força do medo que tenho não me impeça de ver o que anseio.
Que a morte de tudo que eu acredito não me tape os ouvidos e a boca.
Porque metade de mim é o que eu grito, mas a outra metade é silêncio.
Que a música que eu ouço ao longe seja linda, ainda, que triste.
Porque metade de mim é partida mas outra metade é saudade.
Que as palavras que eu falo não sejam ouvidas como prece nem repetidas com fervor,
apenas respeitadas como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimento.
Porque metade de mim é o que eu ouço, mas a outra metade é o que calo.
Que essa minha vontade de ir embora se transforme na calma e na paz que eu mereço.
Que essa tensão que me corroe por dentro seja um dia recompensada.
Porque metade de mim é o que eu penso mas a outra metade é um vulcão.
Que o medo da solidão se afaste,
que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável.
Que o espelho reflita em meu rosto o doce sorriso que eu me lembro de ter dado na infância.
Porque metade de mim é a lembrança do que eu fui, a outra metade eu não sei ...
Que não seja preciso mais do que uma simples alegria para me aquietar o espírito.
E que o teu silêncio me fale cada vez mais.
Porque metade de mim é abrigo, mas a outra metade é cansaço.
Que a arte nos aponte uma resposta, mesmo que ela não saiba,
e que ninguém a tente complicar porque é preciso simplicidade para fazê-la florescer.
Porque metade de mim é platéia e a outra metade, a canção.
E que a minha loucura seja perdoada.
Porque metade de mim é AMOR e a outra metade também !
Osvaldo Montenegro

A alma que escrevo...


“A ALMA DO QUE ESCREVO”
A alma do que escrevo.
É uma alma imaginária em um corpo.
Não transcrevo sentimentos meus.
E sim sentimentos de um ser imaginário.
Minha alma quando escrevo desnuda em pensamentos.
Palavras que correm soltas.
Através dos dedos pelo teclado do computador.
Acompanhando um raciocínio, rápido, veloz.
São só palavras.
Sentimentos de um ser imaginário.
Sem emoção.
Uma total devassa transcrita para o papel.
Faz o personagem descrito sentir-se frágil às vezes.
Desnuda sentimentos de afeto.
Carinho, afeição, admiração.
Também desnuda dor.
Indiferença, cinismo, raiva.
Às vezes parecem ser sentimentos tão reais.
Que penetram no coração dos mais insensíveis.
E desprovidos de sentimentos e afetos.
Assim é minha alma quando escrevo.
Apenas a alma de um ser imaginário.
E não a alma de quem escreve ...